Essa foi uma semana com a cara de 2016:
infernal. Muito trabalho, pouco dinheiro, mais fome do que o razoável, notícias
(muito) tristes, notícias (muito) revoltantes e o desejo ardente de que os
cinco dias acabassem logo. Finalmente, depois de uma longa espera, eis que
#sextou.
#Sextou, mas o cansaço está maior que o saldo
da conta bancária e a disposição pra encarar
a noite carioca está mais baixa que a tarifa dinâmica do Uber. A solução é
encontrar conforto na Netflix e, por que não, em uma garrafa de vinho?
Corta para a fila do supermercado. Vinho
escolhido, cometi a ousadia de complementar com um queijo afrescalhado (só
porque hoje é #diadamaldade) e segui com fé para a fila do caixa. Eis que teve início a aventura mais fascinante da
semana: nos minutos seguintes, descobri que uma garrafa de vinho e um pedaço de queijo brie definem, sim, meu estado civil.
“Esse vinho é bom?” – a companheira de fila puxou
assunto, depois que eu cometi o deslize de abrir um sorriso solidário às
reclamações sobre a demora no atendimento.
Confirmei que era, ostentei meu (patético)
conhecimento sobre vinhos e sorri (erro número dois).
“Ih, tem até um queijinho. Hoje tem, hein?”
Confesso que, naquele momento, eu
fraquejei. Pensei em responder que hoje
tinha, sim, e inventar uma versão bem romântica pra justificar as minhas
compras, mas tenho uma envergadura moral para sustentar e optei pela verdade: o
vinho e o queijo eram pra mim. T o d i n h o s pra mim.
A companheira de fila piscou, visivelmente
confusa. Eu quase consegui ver as sinapses mentais dela entrando em curto circuito. Continuei
agindo naturalmente.
“Ah, que
legal. (sorriso constrangido) Não tem nada melhor que um vinho pra relaxar, né?”.
Sorri pra ela de novo, do mesmo jeito que sorri
para a mocinha do caixa quando ela me entregou a sacola com o vinho e me
desejou um “boa noite” com a animação de quem tinha certeza de que eu teria uma
madrugada de pura luxúria.
Já na segurança do lar, com o vinho gelado (me
julguem) e o queijo devidamente cortado em tamanhos totalmente aleatórios, só
faltava a Netflix para que a noite top-top-top ficasse completa. Mas, antes,
aquela olhada rápida no celular pra conferir as fotos da sexta-feira da
galera: gente malhando, gente bebendo, gente engarrafada e gente mandando
aqueles selfies que não têm propósito algum. Mandei uma foto do melhor ângulo
da minha taça (atire a primeira pedra aquele que nunca tirou foto do próprio
copo de bebida) e me dediquei à árdua tarefa escolher
uma série. Tem coisa mais empolgante que uma maratona de séries em plena
sexta-feira à noite? É claro que tem, eu sei.
Com a velocidade que só as fofocas digitais
conseguem atingir, meu celular foi bombardeado por uma sequência de mensagens
com emojis festivos, emojis de coração, emojis de diabinhos e uma série de
perguntas indignadas sobre onde eu estava, com quem estava tomando vinho em
plena sexta à noite e por que a sociedade não estava ciente dessa novidade.
Frustrei todo o entusiasmo do momento com a
notícia de que só haveria uma taça por essa noite e entendi porque não posso
reclamar dessa vida: recebi mensagens preocupadas com a minha solidão, convites
para me aventurar pela emocionante e caríssima noite do Rio de Janeiro e até uma
companhia solidária para me ajudar a dar fim na garrafa de vinho e assistir a
uma comédia romântica bem açucarada pra adoçar a alma. Recusei todas, feliz da
vida por ser tão amada.
Não escolhi nenhuma série e desisti da Netflix antes
de chegar à metade da garrafa. Não dava para deixar de escrever sobre a fascinante
experiência de ser uma solteira de trinta (e poucos) anos e desejar uma garrafa
de vinho em plena sexta-feira à noite. No dia oficial da maldade, não há nada
mais subversivo do que esvaziar uma(s) taça(s) sozinha, na frente da tela do computador,
escrevendo sobre as pequenas coisas da vida que nos divertem quando observadas pelo ângulo certo. Saúde!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Cês gostaram, gente?