Quando saiu de casa na noite escura do Halloween, Ana estava aterrorizada. Qualquer um que a visse caminhando com passos rígidos pela alameda ladeada por lanternas de abóboras, poderia jurar que ela temia um encontro com as criaturas que se espalhavam por aquelas bandas na véspera do Dia dos Mortos. Mas aquilo não era verdade.
Ana não temia os espíritos que retornavam para uma breve visita aos entes queridos, nem as bruxas que se reuniam para as celebrações ruidosas do Samhain. Não havia temor pelos vampiros que saíam à caça de vítimas distraídas, nem pelos demônios do mundo inferior que aproveitavam a ocasião para importunar os vivos com suas traquinagens inconvenientes.
Ana não se arrepiou com o piado agourento de uma coruja solitária, nem com o uivo desolado dos lobisomens. Também não houve alvoroço quando um gato preto, vindo de lugar nenhum, atravessou seu caminho e ziguezagueou entre suas pernas ronronando por afeto.
Ainda assim, Ana estava aterrorizada. Seu coração batia descompassado dentro do peito enquanto ela caminhava até o seu destino. A boca estava seca, as mãos geladas e os pensamentos giravam a mil por hora, tentando entender o que estava por trás da sucinta mensagem enviada por aquele que ela acreditava ser o amor da sua vida. Sempre se considerou uma pessoa corajosa, mas naquela noite de Halloween, encontrou medo e desesperança em duas simples palavras: “Precisamos conversar”.
