sábado, 15 de dezembro de 2018

Sexto Sentido

Ela aprendeu a entender aqueles sinais mesmo antes de saber seu nome. A sensação de nó na gargante, frio na barriga e pensamentos fora de controle tomavam seu corpo de assalto desde suas mais tenras lembranças.

Ela soube de antemão quando seu cachorro de estimação morreria. Plantou-se junto ao animal doente durante todo o dia, até que a respiração dele se tornou um sopro e cessou por definitivo. Mais tarde, soube antes de todos que havia alguma coisa errada com a saúde de sua avó. Sua inquietação incontrolável e o comportamento fora dos padrões antecederam a fatídica internação e a terrível notícia. Sabia quando uma amiga não estava bem, mesmo olhando através de um sorriso tranquilizador. Conhecia os tons de voz dos seus próximos e identificava, sem grandes dificuldades, quando algo não estava certo. Soube que tomou uma decisão errada no trabalho antes que qualquer um lhe desse o veredito: aquele frio na barriga se instaurou no momento em que dera a resposta impulsiva e não a abandonou até que a proposta se provasse uma furada.

Tinha um imenso orgulho da intuição que sempre fazia soar os alarmes mais altos de sua consciência: enquanto as pessoas patinavam em problemas perfeitamente previsíveis, ela caminhava ao largo deles ilesa, impelida por uma força poderosa e desconhecida. Considerava-se privilegiada, imbatível e inalcançável, até o dia em que aqueles olhos escuros cruzaram seu caminho a ela ignorou a voz na sua cabeça que tentava lhe dizer que aquele amor a levaria à ruína.

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